Um incendio em um casarão no rio destruiu varias obras de arte e chama a atenção para o risco que essas obras no país, vários casarões antigos e com pouca segurança abrigam peças valiosas. O casarão destruído pertencia a Jean Boghici (colecionador de arte romeno que tinha um casarão em copacabana), entre as peças queimadas haviam quadros de Di Cavalganti e Guignard. Após o acontecido críticos de artes alertam que se nada mudar o Brasil corre risco de perder outras obras valiosas.
Em conversa retirada do jornal R7 o crítico e mestre em arte Oscar D'Ambrosio tem o seguinte a dizer:
R7 – Como o mercado de arte reagiu à notícia do incêndio no apartamento do colecionador romeno Jean Boghici, em Copacabana, no Rio?
Oscar D’Ambrosio – Em primeiro lugar, a gente precisa
lembrar que esse tipo de acervo pessoal no Brasil é muito mal guardado e
com condições de segurança muito baixas. Infelizmente, não há muita
surpresa em notícias como essa. Há pouco tempo, tivemos o incêndio do
acervo do Helio Oiticica, em 2009. Infelizmente, o Brasil não tem
tradição de conservação de acervo com segurança e uso de
novas
técnicas adequadas. Não existe uma cultura em relação a isso. Em São
Paulo, há artistas que guardam acervos em galpões. Isso é um perigo para
a cultura nacional. Por exemplo, no caso do Jean, ele tinha acervo de
Di Cavalcanti e Tarsila. Se nada mudar, a tendência é que isso aconteça
cada vez mais. É uma situação seríssima que só tende em se agravar.
Muitas vezes os herdeiros dos colecionadores não têm interesse, e muitas
vezes cultura, para perceber, para preservar esse materiais, que
deterioram ou ficam sujeito a este tipo de calamidade. Acho que nos
próximos 30 anos muita coisa pode se perder. Isso sem falar nas obras
que estão no interior...
R7 – Há muitas obras de arte de importância nacional e mundial em situação semelhante, ou seja, sob risco?
Oscar D’Ambrosio – Quando a gente pensa em colecionador
particular estamos falando de obras em ambiente que não temos ciência
de como são. Herdeiros das famílias tradicionais de São Paulo têm
importantes obras do modernismo sujeitas ao roubo, ao incêndio ou a
qualquer tipo de intempérie. Eles não divulgam que têm a obra, com medo
de assalto, mas acabam sujeitos a coisas desse tipo. Os casarões antigos
têm parte elétrica muito deteriorada, assim como os velhos
apartamentos, como são os de Copacabana. O Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais e Pernambuco são os principais Estados onde há patrimônios
importantes em risco.
R7 – O que deveria acontecer, em sua opinião, com as obras de
artes importantes que pertencem a proprietários particulares? Deveria
haver algum tipo de cuidado ou prestação de contas a órgãos públicos?
Oscar D’Ambrosio – Em um primeiro momento deveria
existir uma conscientização de quem tem acervo importante na tentativa
de preservarem o que possuem. Isso significa guardar adequadamente.
Poderia haver um empréstimo dessas obras a museus, onde elas estariam em
melhores condições. Instituições de estímulo à cultura deveriam
incentivar as pessoas a fazerem isso. Mas é claro que eu sei que isso é
muito difícil de acontecer, porque as obras têm muito valor, trata-se de
um bem herdado. Mas também é preciso pensar na preservação da cultura
nacional. Há que se levantar a discussão de preservar essas obras que
são importantes para o Brasil, são obras de Tarsila do Amaral, Di
Cavalcanti e Cândido Portinari, nomes importantes de nossa arte.
R7 – O senhor faz ideia de quanto valia os dois quadros destruídos?
Oscar D’Ambrosio – Isso varia muito. Não há como eu
estimar um valor, porque dependeria do mercado. Obras desses dois
artistas têm valor inestimável, sobretudo porque servem para entender o
conjunto do artista como um todo. Não ter essas obras é uma perda.
Qualquer obra de Di Cavalcanti ou de Guignard é uma obra do povo
brasileiro de valor inestimável.
R7 – Qual a importância de Samba, de Di Cavalcanti, e A Floresta, de Guignard, os dois quadros queimados, para nossa arte?
Oscar D’Ambrosio – São obras importantíssimas do
modernismo brasileiro. No caso do Di Cavalcanti, ela reflete essa
característica dele pela busca da brasilidade, da mulher, da paisagem e
da musicalidade brasileira. Di Cavalcanti e Heitor dos Prazeres,
considerado um artista primitivista, foram os dois que mais exaltaram o
samba. Já o Guignard foi um grande representante da paisagem mineira e
foi fundador de uma escola de pintura em Minas Gerais. A obra dele é uma
referência no Brasil.
Noticia retirada de: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/obras-de-arte-correm-risco-no-brasil-alerta-critico-apos-incendio-no-rio-20120814.html